quarta-feira, 18 de março de 2009

Dependências II


As Drogas e o Cérebro


O alvo da acção das drogas é o neurónio.
Para compreender melhor o efeito que as drogas têm no "funcionamento" dos neurónios é importante que saber como é que se efectua a propagação dos impulsos nervosos, nomeadamente ao nível das sinapses. Por isso, em primeiro lugar, vamos relembrar alguns conceitos importantes sobre as mensagens nervosas.


Como é que os neurónios comunicam?
As mensagens nervosas - impulsos nervosos - são como uma corrente eléctrica, que se propaga ao longo das fibras nervosas, tal como a corrente eléctrica se propaga ao longo dos cabos eléctricos.

Mas quando um impulso nervoso atinge um terminal pré-sináptico este não pode passar para o terminal pós-sináptico sob a forma eléctrica, pois o circuito encontra-se interrompido pela fenda sináptica. Desta forma, para que o impulso consiga transpor esta fenda, a mensagem nervosa tem de mudar de linguagem - ela vai atravessar a fenda sináptica sob a forma de substâncias químicas, designadas de neurotransmissores.

O que é que são os neurotransmissores?

Os neurotransmissores são mediadores químicos que se encontram armazenados em vesículas do axónio pré-sináptico. Quando o impulso nervoso chega à extremidade do terminal pré-sináptico, os neurotransmissores são libertados na fenda sináptica. Estas substâncias vão-se fixar a receptores (moléculas selectivas) que existem na membrana do neurónio pós-sináptico.


O sistema nervoso é eficientemente regulado para manter o seu funcionamento equilibrado.

- Há neurónios excitatórios e neurónios inibitórios.

- Há neurotransmissores excitatórios e neurotransmissores inibitórios

- Há receptores excitatórios e receptores inibitórios



Diferentes drogas - Diferentes locais de acção

Drogas que activam receptores (imitam a acção de neurotransmissores)

• Nicotina. Activa receptores da acetilcolina. A acetilcolina é um neurotransmissor excitatório e está relacionado com a memória e a atenção.

• Heroína. Activa receptores de opiáceos e morfina. Os opiáceos são moléculas que se produzem no nosso organismo em situações de prazer. Os locais onde actuam activam circuitos ricos noutro neurotransmissor envolvido na regulação do prazer, a dopamina.
A heroína causa dependência física e psíquica muito rapidamente.

• LSD. Activa receptores de serotonina. A serotonina é um neurotransmissor excitatório abundante em zonas do cérebro relacionadas com a imaginação. Por isso o LSD causa alucinações.

• Haxixe, Erva, Marijuana. Activa receptores de canabinoides. Os canabinoides são substâncias inibitórias abundantes em áreas cerebrais que controlam as emoções.

• Álcool. Activa receptores do glutamato. O glutamato é um neurotransmissor excitatório, muito necessário para a memória; contudo a activação excessiva de receptores de glutamato leva á morte de neurónios.

Quando uma droga activa um receptor, o neurónio adapta-se, produzindo menos receptores.


Drogas que bloqueiam receptores (previnem a acção de neurotransmissores)

• Cafeína. Bloqueia receptores da adenosina. A adenosina é uma substância que os neurónios libertam e que regula o ciclo do sono.

Quando uma droga bloqueia um receptor, o neurónio adapta-se, produzindo mais receptores.



Drogas que bloqueiam transportadores (prolongam a acção dos neurotransmissores)

• Cocaína, anfetaminas, ecstasy. Bloqueiam os transportadores da dopamina, da noradrenalina e da serotonina. Estes neurotransmissores são excitatórios e responsáveis por estados de vigília, motivação, impulsividade, para além do seu envolvimento nos centros de prazer. A noradrenalina tem ainda um importante papel na função cardíaca e regulação do diâmetro dos vasos sanguíneos. Numa fase inicial estas drogas aumentam a actividade do organismo reduzindo a sensação de cansaço, mas o seu uso abusivo leva a cansaço, irritabilidade e eventualmente depressão.

Quando uma droga bloqueia um transportador, o neurónio adapta-se, produzindo mais transportadores. O uso prolongado e intenso pode causar uma diminuição marcada do neurotransmissor porque quando este não é captado pelos neurónios deixa de estar disponível para ser libertado.



As áreas do cérebro mais influenciadas pelas drogas são as áreas envolvidas no controlo das emoções, afectos, prazer, recompensa, impulsividade, cognição e vigília.



Mas como é que o cérebro fica dependente das drogas?

Quem consome drogas está, no fundo, a tentar activar artificialmente um certo circuito no cérebro. Esta activação ocorre da seguinte forma (toma atenção à imagem seguinte!):

1. No nosso cérebro existe um equilibrio entre os sinais excitatórios e os sinais inibitórios (fig.1);
2. A droga entra no organismo e faz aumentar os sinais excitatórios no cérebro (fig. 2);
3. O cérebro reage, aumentando os sinais inibitórios;
4. Atinge-se um novo equilíbrio, mas o efeito da droga continua presente (fig. 3);
5. Quando a droga deixa de estar presente, o sistema fica desequilibrado (fig. 4);
6. Nessa altura o indivíduo tem vontade de consumir mais droga;
7. Como o cérebro vai reagindo, reduzindo o número de ‘alvos’ das drogas, cada vez é preciso consumir uma dose superior para obter o mesmo efeito.

in http://umaquestaodecerebro.blogs.sapo.pt/2612.html

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