segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Damásio e o caso de Phineas Gage

O Caso de Phineas Gage

Phineas Gage era um jovem supervisor de construção de ferrovias da Rutland e Burland Railroad, em Vermont, EUA. Em 1848 de setembro, enquanto estava a preparar uma carga de pólvora para explodir uma pedra, ele calcou uma barra de aço inadvertidamente no buraco. A explosão resultante projectou a barra, com 2.5 cm de diâmetro e mais de um metro de comprimento contra o seu crânio, a alta velocidade. A barra entrou pela bochecha esquerda, destruiu o olho, atravessou a parte frontal do cérebro, e saiu pelo topo do crânio, do outro lado. Gage perdeu a consciência imediatamente e começou a ter convulsões. Porém, ele recuperou a consciência momentos depois, e foi levado a um médico local, Jonh Harlow que o socorreu. Incrivelmente, Phineas Gage falava e podia caminhar. Ele perdeu muito sangue, mas depois de alguns problemas de infecção, não só sobreviveu à horrenda lesão, como também se recuperou bem, fisicamente.






Porém, pouco tempo depois Phineas começou a ter mudanças surpreendentes na personalidade e no humor. Ele tornou-se extravagante e anti-social, praguejador e mentiroso, com péssimas maneiras, e já não conseguia manter-se num trabalho por muito tempo ou planear o futuro. "Gage já não era Gage", disseram seus amigos.



Ele morreu em 1861, treze anos depois do acidente, sem dinheiro e epiléptico, sem que uma autópsia fosse realizada ao seu cérebro. O médico que o atendeu, John Harlow, entrevistou amigos de parentes, e escreveu dois artigos sobre a história médica reconstruída de Gage, um em 1948, intitulado "Passagem de uma Barra de Ferro Pela Cabeça ", e outro em 1868, intitulado "Recuperação da Passagem de uma Barra de Ferro Pela Cabeça ".
Phineas Gage tornou-se um caso clássico nos livros de ensino de neurologia. A parte do cérebro que ele tinha perdido, os lobos frontais, passou a ser associada às funções mentais e emocionais que ficaram alteradas. Harlow acreditava que, "o equilíbrio entre as faculdades intelectuais e as propensões animais parecem ter sido destruídas".



O crânio dele foi recuperado e preservado na Universidade de Harvard. Mais recentemente, dois neurobiologistas portugueses, Hanna e António Damásio da Universidade de Iowa, utilizaram computação gráfica e técnicas de tomografia cerebral para calcular a provável trajetória da barra de aço pelo cérebro de Gage, e publicaram os resultados em Science, em 1994. Eles descobriram que a maior parte do dano deve ter sido feito à região ventromedial dos lobos frontais em ambos os lados. A parte dos lobos frontais responsável pela fala e funções motores foi aparentemente poupada. Assim eles concluíram que as mudanças no comportamento social observado em Phineas Gage provavelmente foram devidos a esta lesão, pois observaram o mesmo tipo de mudança noutros pacientes com lesões semelhantes, causando déficits característicos nos processos de decisão racional e de controle da emoção.
"Gage foi o início histórico dos estudos das bases biológicas do comportamento", disse António Damasio.

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