terça-feira, 13 de outubro de 2009

Psicanálise


Sigmund Freud viveu entre 1855 e 1939. Licenciou-se em medicina na Universidade de Viena, com especialização em histologia e neurologia. Freud interessava-se por pesquisa científica e começou a trabalhar no laboratório do neurofisiologista, em Brucke. Mais tarde, Freud abandona o laboratório e começa a trabalhar no Hospital Geral de Viena, onde conhece Josef Breuer, um médico que fazia terapia a mulheres que sofriam de histeria. Por esta altura recebe uma bolsa de investigação para ir trabalhar com Charcot, psiquiatra no hospital Psiquiátrico de Salpétriêre, em França, no estudo da histeria e na utilização da hipnose (estado mental transitório, que se assemelha a um estado de sono e que é caracterizado pela ausência de reacção aos estímulos do meio ambiente e a uma ausência de iniciativa comportamental) para o seu tratamento. Durante este período, Freud assistiu a demonstrações feitas por Charcot que, através do hipnotismo, conseguia eliminar os sintomas neuróticos das pessoas que os possuíam, tais como: cegueira, paralisia, alucinações e perda de controle motor. Através da mesma técnica, conseguia também induzir os mesmos sintomas em pessoas que não sofriam deles.
Freud regressa ao Hospital Geral, agora já considerado como especialista em neuropatologia, e começa a colaborar com Breuer no tratamento da histeria, que incluía massagens, terapia de repouso e hipnose.
Em 1895 Josef Breuer e Sigmund Freud publicam o livro Estudos sobre a Histeria onde descrevem casos clínicos reais. Um dos casos é o de Cecily, uma jovem de 21 anos a quem os médicos apelidaram de “Anna O” e que começou a manifestar sintomas neuróticos após a morte do pai. Esta jovem apresentou inúmeros sintomas característicos da histeria.
Com a evolução de sua experiência clínica, Freud compreendeu que os sintomas neuróticos são provocados por experiências sexuais, que ocorreram na maior parte dos casos durante a infância e defendeu que a satisfação sexual era a chave para a felicidade e equilíbrio emocional.
Após a morte de Jacob, seu pai, Sigmund Freud fica bastante abalado e começa também a ter uns sonhos perturbadores que, aos poucos, tenta analisar e compreender a sua origem, interpretando-os como realizações disfarçadas de desejos inconscientes. Surge assim a técnica da interpretação dos sonhos. Freud lança também um livro intitulado A Interpretação dos Sonhos.
Breuer não concordou com Freud nestes novos aspectos acabando por não o acompanhar mais no seu trabalho.
Novas técnicas e novos conceitos foram introduzidos por Sigmund Freud que se tornou num dos maiores responsáveis, no século XX, por uma mudança radical nas mentalidades da época. Inconsciente, pulsão (força de base biológica e inata que está na origem de toda a dinâmica psicológica), líbido (é a energia derivada da pulsão sexual), mecanismos de defesa do ego (comportamentos que representam as negações inconscientes ou distorcidas da realidade e que são adoptados com a finalidade de proteger o ego contra a ansiedade), Complexo de Édipo (desejo da parte da criança de possuir sexualmente o elemento parental do sexo oposto, enquanto exclui o outro elemento do mesmo sexo), estádios de desenvolvimento psicossexuais, associações livres (método no qual o paciente é encorajado a dizer o que sente, sem qualquer tipo de censura), análise da transferência (atitudes emocionais desenvolvidas pelo paciente em relação ao analista) e dos actos falhados (lapsos de linguagem ou de memória), sexualidade infantil e interpretação dos sonhos são então as novidades que Freud propõe e que formam instrumentos da Psicanálise, que é simultâneamente uma teoria, um método e uma terapia.
Enquanto teoria a psicanálise tenta compreender a personalidade humana em toda a sua complexidade fornecendo-nos uma perspectiva dos diferentes aspectos que a caracterizam: o aspecto dinâmico das forças ou pulsões que a fazem mover e dos conflitos que se estabelecem; o aspecto tópico, as zonas e estruturas que caracterizam o seu funcionamento; o aspecto económico, que se ocupa da gestão e investimento das energia pulsionais; e o aspecto genético que identifica os grandes momentos e transformações através dos quais o indivíduo constrói e estrutura a sua personalidade. A psicanálise abordou todos estes novos modelos conceptuais de uma forma bastante inovadora para a época. Alguns foram pela primeira vez propostos por Freud, tais como a importância dos processos inconscientes, o papel da sexualidade e o relevo dado à infância na formação da personalidade. Segundo o fundador desta teoria, toda a dinâmica psicológica e afectiva tem por base tendências inatas, as pulsões ou instintos, nomeadamente sexuais, que conduzem o indivíduo para actividades que cabem com essa tensão, gerando prazer. A sexualidade a que Freud se refere é toda e qualquer forma de conseguir prazer, desde o chuchar no dedo até à realização do acto sexual. Partindo da sua prática clínica, Freud propõe um primeiro modelo de funcionamento do “aparelho psíquico” _ “1.ª tópica”_ dividindo-o em duas áreas: o inconsciente e o consciente ou pré - consciente. Estas duas áreas comunicam através da “censura” que tem o papel de manter no inconsciente os materiais (afectos, representações, vivências) que possam chocar o consciente, este processo é denominado por “recalcamento”. Porém esta visão do psiquismo humano era incompleta e Freud acabou por criar uma “2.ª tópica” que o dividia em três instâncias: o id (constituído pelas pulsões; funciona segundo o principio do prazer), o ego (que regula o conflito entre as pulsões e as exigências da realidade exterior, através dos “mecanismos de defesa”; funciona segundo o principio da realidade) e o superego (formado pela interiorização das proibições impostas pela realidade exterior). Para a psicanálise a personalidade humana constrói-se através de várias instâncias que a compõem e da diversidade das formas de realização das pulsões. Freud dividiu esse desenvolvimento em várias fases, sendo cada uma delas identificada pela zona do corpo que provoca satisfação da sua pulsão _ zona erógena _ , através da sua estimulação. No primeiro ano de vida a zona erógena situa-se na boca _ fase oral; aos dois e três anos é a região anal _ fase anal; entre os três e os cinco/ seis anos a zona erógena centra-se nos órgãos genitais mas indiferenciados e representados simbolicamente pelo pénis _ fase fálica, é no decurso desta fase que a criança experiência o complexo de Édipo e dá-se a estruturação do superego; entre os seis e os onze/ doze anos a actividade pulsional abranda e dá-se uma “amnésia infantil” na qual as experiências afectivas anteriores sofrem um processo de “recalcamento” _ período de latência; na puberdade a actividade das pulsões volta a estar mais activa e as zonas de prazer voltam a ser os órgãos sexuais, mas agora diferenciados _ fase genital. Cada fase superas as anteriores integrando-as e unificando-as sob o ponto de vista da satisfação, mas por vezes a passagem à fase seguinte pode ser dificultada por uma “fixação” (excessiva gratificação) ou por uma “regressão” (a formas de satisfação típicas de uma fase anterior).
Como método a psicanálise começou pelo uso da hipnose, mas mais tarde acaba por prescindir deste e passou a recorrer a outras técnicas como as associações livres de ideias e a interpretação dos sonhos.
A terapia psicanalista começou com o objectivo de tornar o indivíduo consciente da vivência inconsciente que provocava a perturbação neurótica, porém isto era isuficiente. Então, só através a revivência e resolução do conflito anteriormente mal resolvido, que são feitos por “transferência” para o psicanalista, é que a cura se pode dar.

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